quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Brasil tem 25 parques tecnológicos em operação

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Parques tecnológicos (PqTs) reúnem universidades e empresas em um único espaço com a finalidade de produzir produtos e serviços inovadores. Investimentos em iniciativas como essa fazem parte do plano de países que querem aumentar a competitividade de suas indústrias no mercado mundial. O Brasilianas.org conversou com presidentes de PqTs brasileiros e buscou informações de associações de apoio para saber qual é a contribuição desses centros de pesquisa, e o que tem limitado o desenvolvimento desses espaços no país.

O levantamento mais recente sobre a situação dos PqTs brasileiros foi divulgado em dezembro de 2008 pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). O trabalho identificou 74 iniciativas de parques tecnológicos no país: 25 em operação, 17 em fase de implantação e 32 no papel. Mais da metade dessas localidades (64) já abrigariam 520 empresas incubadas, gerando faturamento médio de R$ 1,687 bilhões,  R$ 116 milhões em exportação e R$ 119 milhões de geração de impostos para os cofres públicos, além de 26.233 postos de trabalho.   
Maurício Guedes, diretor executivo do Parque Tecnológico da UFRJ e Presidente da IASP (Associação Internacional de Parques Tecnológicos), explica que no mundo foram registrados 1.400 PqTs.
“Acho que o Brasil não tem capacidade de investimento para montar todos parques tecnológicos (cerca de 70) que estão em fase de planejamento. Esse número é um exagero e decorre, exatamente, da inexistência de diretrizes de um programa exclusivo no país para parques tecnológicos”, aponta.
Apesar disso, Guedes enxerga, nos últimos anos, boa vontade do governo federal em instituir as bases para a criação de um programa nacional de incentivos a parques tecnológicos. O debate vem sendo conduzido na Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, que em 2010 teve sua 4ª edição realizada e contou com a participação de entidades acadêmicas, do poder público e civil.

As conclusões obtidas nesse evento, e consolidadas no Livro Azul (
link), podem ajudar o país a acabar com o descompasso que persiste entre os seus setores acadêmico e industrial. O Brasil forma anualmente 10 mil doutores e produz cerca de 2% dos documentos científicos publicados no mundo – metade dessa contribuição vem do Estado de São Paulo, que concentra também a formação da maior parte de doutores.
As regiões Sul e Sudeste têm maior número de parques tecnológicos, tanto em operação, quanto em fase de implantação. Já todos os parques das regiões Centro-Oeste e Norte estão em fase de implantação ou projeto. Para a Anprotec, isso se deve à concentração histórica da produção técnico-científico por essas regiões.


Fonte: ApexBrasil

A participação brasileira na inovação é mais crítica, sendo 10 vezes menor do que sua participação na produção científica. O principal indicador de patentes do mundo, o USPTO (United States Patent Office), aponta que o Brasil detém 0,2% das patentes mundiais. Guedes confirma que isso ocorre porque enquanto em países desenvolvidos três em cada quatro pesquisadores estão na empresa e um na academia, no Brasil ocorre exatamente o inverso.
Em setores onde a indústria brasileira é mais competitiva é possível identificar fortes laços entre empresas, universidades e institutos de pesquisa, e investimentos públicos constantes: Embraer e ITA; Petrobras/CENPES e UFRJ; agronegócio brasileiro e Embrapa. Nessa perspectiva a consolidação de parques tecnológicos seria uma forma viável e bem sucedida para aproximar academia e indústria. O Porto Digital, localizado na Ilha do Bairro do Recife, Estado de Pernambuco, é exemplo disso.
Porto Digital
Lançado em 2000, o Porto Digital atraiu para a região da Ilha do Recife 4.000 postos diretos de trabalho, 10 empresas de outras regiões do país e quatro multinacionais, além da abrigar quatro centros tecnológicos. No entorno do empreendimento, conta Guilherme Calheiros, diretor de inovação, já são 6.500 postos de trabalho criados e 143 empresas.
O parque é um pólo de TIC (tecnologia da informação e comunicação), e agrega seguimentos de softwares, envolvendo sistemas de gerenciamento de tráfego e transporte, gestão de sistemas financeiros, de saúde, games, segurança, entre outros. O local também abriga um cluster composto por pequenas, médias e grandes empresas, como Motorola, Samsung, Microsoft e IBM, que transferiu para a ilha sua sede regional.

“O foco do Porto [Digital] é atrair empresas provendo programas e serviços que às fortaleçam. Para isso, precisamos interagir fortemente com as empresas, instituições de ensino e com o poder público”, explica Calheiros.
Ary Plonski, presidente da Anprotec, afirma que os PqTs são plataformas de desenvolvimento regionais e que as experiências nacionais e internacionais mostram que quanto mais articulados estiverem governo (estaduais, municipais e União), setor privado e universidades, melhor é o projeto do parque científico.
Calheiros explica que desde que o parque foi criado, a iniciativa privada investiu cerca de R$ 30 milhões na recuperação de imóveis, revitalizando o Bairro do Recife. O Porto Digital recebeu outros R$ 33 milhões do Estado de Pernambuco para consolidação de sua infraestrutura.

A gestão do PqT também recorre a recursos da União para manter os projetos e incubadoras. Dos R$ 64 milhões que receberam para serem investidos em 32 projetos nos próximos cinco anos, R$ 25 milhões são do Ministério de Ciência e Tecnologia, a outra parte é distribuída por outros 7 convênios que o parque tem com o governo do Estado, Finep e CNPq.
“Grande parte desses recursos vieram de emendas parlamentares, de bancadas que nós mobilizamos no governo. Para outros projetos captamos recursos em editais competitivos. É um esforço gigantesco que fazemos, todos os anos, para manter nossos programas”, declara.

Os recursos necessários para e manter a infraestrutura e equipe administrativa vêm da remuneração dos ativos do parque: aluguel de prédios, salas de conferência e auditórios. “As empresas não precisam estar especificamente nos prédios do porto e não são obrigadas a pagar alguma taxa para fazer parte do parque tecnológico”, completa Calheiros.

Tendências
A Anprotec identificou tendências em relação aos PqTs no país. Uma delas foi o aumento, entre governantes e setor privado, da percepção de importância de centros de pesquisa e inovação, sejam eles parques tecnológicos ou, simplesmente, incubadoras de empresas.
“Neste ano tivemos cerca de 400 inscritos, entre prefeitos, secretários de estado e pessoas do ministério, para participar de rodada sobre o tema, mas tivemos que fazer um corte, pois só tínhamos vagas para 40 pessoas”, completa Plonski.

Outra tendência no país é a profissionalização de gestores de parques tecnológicos, comum internacionalmente, mas inédito no Brasil. Este ano, uma iniciativa da Anprotec em parceria com o Sebrae formou a primeira turma de pós graduação no tema.
Assim como Plonski, Maurício Guedes ressalta que não há necessidade do país consolidar inúmeros PqTs, pelo contrário, é preciso fortalecer aqueles com melhor êxito.
“Todo lugar em que tiver uma comunidade científica e tecnológica gerando conhecimento, uma sociedade empreendedora, uma base empresarial com vocações compatíveis com essa comunidade científica, ali, talvez se tenha um potencial para uma coisa do gênero parque tecnológico”, e aponta como exemplo a força desse conceito, sem haver um PqT, a cidade de Santa Rita do Sapucaí, do Sul de Minas Gerais, lugar que tem sido chamado de Vale da Eletrônica.
“A cidade tem 33 mil habitantes, uma escola de nível superior de telecomunicações chamada Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), e uma escola de nível médio e técnico, criada no final dos anos 1950, por uma pessoa visionária que se chamava Sinhá Moreira”, conta Guedes que destaca também a importância da gestão do prefeito Paulo Frederico de Toledo, nos anos 1980, de incentivo à incubadoras e pequenas e médias empresas.  
Desafios

Segundo Calheiros, o principal desafio que o Porto Digital tem hoje para continuar desenvolvendo inovação e tecnologia está na geração de conteúdo e serviços mais competitivos. “Cada vez mais tecnologia e inovação está virando uma commodity, o que se faz aqui pode ser feito na Índia, China, Camboja, Cingapura”, diz.
O parque deve lançar, em janeiro de 2012, um centro de economia criativa para avançar mais na qualidade dos produtos que incuba. “Recife já é conhecida pela sua capacidade cultural nas áreas de cinema, games, design e música, que são áreas que precisam fortemente da tecnologia da informação como suporte”, conclui.
O Porto Digital foi escolhido para sediar, em 2013, a Conferência Mundial da Associação Internacional de Parques Tecnológicos (IASP).

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