quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Obama não é um ponto fora da curva: Estados engessados, desemprego e radicalização política compõem a nova etapa da crise mundial

A rendição de Obama à lógica do arrocho fiscal imposta pela extrema direita republicana não é um ponto fora da curva. Não vai passar logo. Seus efeitos não recairão apenas sobre os idosos e os loosers norte-americanos. Obama protagoniza de forma assustadoramente passiva --até para quem desconfia de lideranças-twiter--um enredo que se espalha urbi et orbi. Na Europa como nos EUA, a desordem gerada pelo colapso das finanças desreguladas está sendo ‘equacionada’ pelo cânone dos interesses que a originaram. Nos EUA quem os vocaliza é o liberal-fascismo do Tea Party, que reduziu Obama a coadjuvante da cena política. Na Europa, três mosqueteiros de cepa correlata, Merkel, Sarkozy e Trichet, anunciaram há 15 dias um acordo ‘redentor’ para escalpelar a Grécia sem ferir os mercados. A promessa era interromper o contágio que já tomava de assalto o Tesouro espanhol e italiano, obrigados a pagar juros crescentes a credores em fuga. Durou pouco. Nesta 3º feira, numa apoteose da espiral assistida desde então, a Espanha teve que pagar os maiores juros desde 1995 para renovar papagaios no mercado. Agosto promete ser o mais quente da história italiana. Berlusconi terá que repactuar juros incidentes sobre um volume de dívidas equivalente ao passivo da Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda juntos. Na zona do euro ou na do dólar, os Estados, grosso modo, quebraram na luta contra o incêndio especulativo de 2007/2008. No rescaldo recessivo os capitais incendiários exigem que o bombeiro reduza o hidrante fiscal a um conta gotas orçamentário. A prioridade rentista é garantir o serviço da dívida privada reciclada em déficit público. A desaceleração econômica embutida nessa lógica tem implicações práticas ascendentes: o desemprego nos EUA é de 9%; a média na Europa é de 10%. Projeções indicam que o patamar de emprego pré-crise só será reposto nos EUA dentro de uns cinco anos, ou 60 meses. Quem já caminha sobre brasas recessivas tem pela frente agora um longo e traumático ciclo de retração fiscal feito de cortes sobre receitas declinantes. Anos e anos de eclipse econômico e destruição de conquista sociais se anunciam. Capitais especulativos continuarão a buscar praças mais apetitosas, como a dos juros oferecidos pelo Brasil, agravando desequilíbrios cambiais e industriais conhecidos. As ruas do mundo ficarão lotadas de desempregados e indignados. A proporção vai depender da reação dos partidos e sindicatos progressistas diante dos fatos pedagógicos que marcaram a história americana nos últimos dias (leia nesta pág.análise de André Barrocal sobre o pacote de apoio à indústria lançado nesta 3º feira).
(Carta Maior; 4ª feira, 03/08/ 2011)

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