Desde que o governo Lula consolidou a soberania brasileira na exploração das reservas do pré-sal, os rentistas da dívida pública e a coalizão demotucana sabem que história brasileira iniciou a contagem regressiva de um novo ciclo. Dois gargalos que constrangem o desenvolvimento do país e o combate a sua desigualdade --as contas externas e o déficit público que torna a economia refém da armadilha dos juros, como se viu de novo nesta semana-- ganham um notável contraponto emancipador. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, divulgado agora, traz números que iluminam esse horizonte que nos protege e desafia. Um deles resume todos os demais: em 2020 a produção brasileira de petróleo atingirá seis milhões de barris/dia. Três vezes superior a atual. O excedente previsto em 2020 --que deverá ser exportado, preferencialmente com agregação de valor pelo refino-- será superior a 3 milhões de barris/dia. Ao preço de US$ 100 o barril, um cálculo moderado, significa uma receita de exportações superior a US$ 100 bilhões por ano. Ademais do gigantesco impulso industrializante que essa exploração vai desencadear, as receitas cambiais e fiscais inscritas nesses números permitirão ao Estado brasileiro: a) guarnecer-se de reservas soberanas efetivas, a salvo de fugas especulativas porque superiores aos ingressos de fluxos erráticos no país; b) formar um superávit fiscal e recomprar títulos da dívida pública hoje em mãos do mercado financeiro, libertando-se assim da dependência de se financiar junto aos rentistas que exploram essa subordinação impondo juros obscenos à sociedade. Não estranha, portanto, o empenho com o qual o dispositivo midiático conservador tentou impedir a regulação soberana das reservas do pré-sal.O que a ortodoxia e seus interesses temem, com razão, é a dinâmica abolicionista embutida nesse processo. Não se deve estranhar, pelo mesmo motivo, o furor com o qual a oposição tentará abortar esse desfecho nos próximos anos. À medida em que o relógio anda e os investimentos da Petrobrás pavimentam esse futuro, a única chance que lhes resta é atalhar o percurso com uma cunha que derrote as bases políticas desse projeto, impedindo a sua continuidade em 2014 --ou antes, se o movimento social piscar e não construir uma agenda de longo curso para orientar essa travessia.
(Carta Maior; 6º feira, 10/06/ 2011)
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